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A Vida Nunca Foi Tão Bela
2004
Instalação
Montra da Farmácia Souza Soares


Criar Um Lugar: intervenção pública de arte contemporânea,
Porto
curadoria de Maria Fátima Lambert
com Cristina Ataíde, Suzana Piteira, Ritzse van Raay, Susana Mendes Silva, Miguel Soares, Miguel Palma, Beatriz Albuquerque, André Cepeda, Marta Moreira, Catarina Saraiva, João Luís Bento, Samuel Rama, Pedro Tudela, Eun-Hye Huang
Em 2004, fui convidada para participar num projecto de arte no espaço público na cidade do Porto. O projecto chamava-se Criar um lugar e integrava-se nas comemorações dos 10 anos da associação Espaço T. Esta associação, que eu não conhecia antes, é bastante especial. A sua tarefa é ajudar pessoas que, por uma razão ou por outra, perderam a sua vida social e procurar dar-lhes os mecanismos adequados para uma reintegração. Fiquei muito surpreendida e sensibilizada com este trabalho e com os trabalhadores e utentes da associação. O projecto desenvolvia-se em vários espaços da zona central da cidade, nomeadamente em várias montras da Rua de Santa Catarina, e foi-me entregue a montra de uma farmácia – a farmácia Souza Soares quase em frente ao Café Majestic.
Em A vida nunca foi tão bela (2004), existiu uma forte relação contextual, dado que esta obra apenas fazia sentido naquele local e situação específica. Numa das montras da farmácia coloquei um enigmático anúncio, que seguia o modelo dos anúncios de produtos que habitualmente se encontram nas farmácias, no qual se lia: "A vida nunca foi tão bela. Pergunte ao seu farmacêutico."
A escolha da frase encerrava um duplo sentido: por um lado relacionava-se com a associação e o seu trabalho de voltar a "dar a vida" às pessoas, e por outro prendia-se com notícias publicadas na imprensa, que referiam que os portugueses estavam entre os povos europeus que consumiam mais antidepressivos. Antes da inauguração tive algumas reuniões para tornar o projecto possível. Primeiro com a curadora da exposição — Fátima Lambert —  e com o director técnico da farmácia, e depois com o pessoal que trabalhava ao balcão em contacto com o público, para explicar o propósito e o contexto do projecto. Apesar de inicialmente estar preocupada com a sua reacção, todos eles se mostraram bastante entusiasmados.
Perguntaram-me a forma com deviam actuar e responder aos clientes, e de facto não tinham que fazer nada de complicado: a proposta era provocar a curiosidade das pessoas, levando-as a perguntar sobre o anúncio e isso ser o mote para surgir uma breve conversa sobre vida e sobre arte entre duas pessoas que habitualmente só falariam sobre receitas médicas ou doenças. Se o pessoal da farmácia não conseguisse satisfazer a curiosidade ou responder a algum dos clientes, pedi para ser impresso um cartão com os dados da obra e o meu contacto, para que fosse possível encaminhar essa pessoa directamente para mim. No entanto nunca precisaram de entregar nenhum cartão, e disseram-me que o projecto tinha corrido muito bem.
A vida nunca foi tão bela acabou por se tornar numa performance na qual os intervenientes foram os funcionários e os clientes da farmácia.