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São Tato
2004-19
Bola de futebol oficial autografada por São Tato e texto em vitrine.
Página de jornal, suplemento Selecção Nacional publicado no jornal Público (2004)
Texto escrito pela artista (2019 | reproduzido em baixo)

Agradecimentos:
São Tato, Prof. Nuno Cristovão (Seleccionador Nacional) e Isabel Cristina
Paulo Mendes
2004 Selecção Nacional, curadoria de Pedro Valdez Cardoso e Maria Lusitano, In Em Jogo/ On Side, CAV, Coimbra
2019/20 Trabalho Capital - Ensaio sobre Gestos e Fragmentos, comissariado de Paulo Mendes, Centro de Arte Oliva, São João da Madeira
São Tato na Oliva

Maria Assunção Gonçalves Fernandes Tato nasceu a 29 de Dezembro de 1963.
É a São Tato. A primeira marcadora da Selecção Feminina Portuguesa em 1983.

A obra "São Tato"(2004) partiu de um convite que me foi endereçado pelos artistas Maria Lusitano e Pedro Valdez Cardoso para o projecto Selecção Nacional para o qual convidaram vários artistas*. Todos recebemos uma bola oficial do Euro 2004, da marca Nike, e uma página para ocuparmos num suplemento especial do jornal Público. Quando comecei a pensar sobre o meu projecto, fiz uma série de pesquisas e acabei, por acaso, por encontrar uma única referência online sobre a mulher que tinha marcado o primeiro golo pela selecção de futebol feminino. Fiquei muito intrigada e comecei à procura desta mulher. Telefonei para a Federação de Futebol Português explicando o meu propósito e encaminharam-me para o Seleccionador de Futebol Feminino à altura, o Prof. Nuno Cristóvão, que por sua vez gentilmente cedeu-me o contacto de uma outra jogadora e colega da Selecção - a Isabel Cristina. Foi a Isabel que me deu o contacto da São Tato. Falámos ao telefone e combinámos que eu iria ter com ela a Matosinhos para a conhecer. Quando finalmente nos encontrámos ao vivo, foi um momento especial. Eu contei-lhe sobre o projecto Selecção Nacional e disse-lhe que a minha obra era sobre aquele momento especial em que ela marcou o primeiro golo. E o que gostava era que ela simplesmente assinasse a bola.
E ela perguntou-me: "Mas assino como?"
"À craque!", respondi eu.
Voltei orgulhosa, para Lisboa, com a bola autografada pela São.

A equipa da primeira selecção era constituída por mulheres do Norte de Portugal que pertenciam a quatro clubes: o Boavista, o Leixões, o Foz e o Coelima. Nenhuma era profissional e jogavam por paixão. Tanta que Gena, guarda-redes, descreve assim a São: "Ela tinha um remate como eu nunca vi; uma vez torceu-me um pé só com a força do pontapé dela”.
É interessante, estarmos hoje aqui na Oliva, perceber que as mulheres  desta selecção trabalhavam, estando muitas inseridas num contexto operário. Na história do desporto português houve equipas de vários clubes dinamizados pelas próprias empresas. Estes clubes eram destinado às/aos trabalhadores dessa empresa ou habitantes da região, as/os quais praticavam por exemplo o atletismo ou futebol. Como é o caso da já referida Coelima (à qual  pertenciam as jogadoras Eva Antunes, Tisa, Emília e Cidália), da Riopele, da CUF, da Tarf, da Alba, e da própria Oliva.

Infelizmente e apesar do entusiasmo inicial, depois de 1983 a Federação Portuguesa de Futebol acabou com a selecção feminina para só voltar, dez anos depois, em 1993. Um hiato que fechou muitos sonhos mas que hoje volta a ser possível com as raparigas que têm idade para serem suas filhas.

*- Ambos foram convidados para a exposição colectiva Em Jogo/ On side, comissariada por Albano da Silva Pereira e Miguel Amado, no Centro de Artes Visuais de Coimbra.

Susana Mendes Silva, 2019