Mind Walls

Susana Mendes Silva apresenta nesta exposição uma instalação que se refere a uma "perturbação de personalidade esquizóide". Um diapositivo, projectado, mostra as costas de uma personagem (a própria artista), escondendo a cara, a sua identidade; escamoteando e evitando o contacto com o outro. Um espelho mostra o olho da personagem; permite que esta veja para trás das suas costas, mas, também, evita o contacto total e directo com o outro. O olho, neste caso inexpressivo, nada nos transmite sobre o que estará a pensar. É "apático"; apenas nos revela uma possibilidade (muito) remota (quase improvável) de desejo de contacto, de relação. Na verdade, a imagem reflectida pelo espelho é, para si, preferencial; não é a imagem do outro colhida pela retina, mas uma imagem já transformada pela reflexão, o outro construído à sua imagem.

A artista adiciona a esta fotografia um pormenor, difuso e, por isso, subtil: a evocação de uma "prisão", uma grade de luz que evita a aproximação e que torna esta personagem num recluso dentro de uma cadeia improvável, inexistente, imaginada. Esta teia de fios de nylon atravessada por luz não existe aos olhos de muitos, mas existe para si, é real, é uma ajuda "física" para evitar o contacto, para isola-la da relação com o outro.

Talvez o olhar, reflectido pelo espelho, seja agora um olhar de "triunfo" da separação do outro. Mas, no fundo, é este mesmo olhar que (quase) trai esse desejo...


Diniz Lopes